(sei que desta vez me excedi e que poucos vão ler até ao fim) – ainda assim fica a partilha

Num tempo marcado pela velocidade, pela hiperconectividade e pela constante exposição a estímulos externos, o ato de parar e refletir tornou-se não apenas raro, mas quase subversivo. A sociedade contemporânea valoriza a resposta rápida, a opinião imediata e a produtividade incessante, relegando a introspeção a um plano secundário. Este ensaio propõe uma reflexão profunda sobre a importância de desacelerar, de olhar para dentro e de reencontrar o sentido da existência através da escuta interior. A partir de um texto pessoal e autêntico, enriquecido com referências filosóficas, exploro a urgência de cultivar o pensamento crítico, a consciência individual e a transformação interior como resposta ao caos exterior.
“A vida não examinada não vale a pena ser vivida.” — Sócrates
Olá a todos, como sabem às vezes dá-me para isto de escrever, gosto e sinceramente até acho que tenho algum jeito então por vezes, algumas vezes, hoje em dia muitas vezes, gosto de PARAR e REFLETIR.
Já escrevi aqui vários textos sobre diversas temáticas, a maioria mais filosóficas, porque acredito que vivemos tempos em que temos, devemos, urge, que paremos e pensemos, que ponderemos e mais do que para o exterior olhemos para o interior de cada um de nós.
“Conhece-te a ti mesmo”, dizia o oráculo de Delfos, máxima que Sócrates adotou como princípio de vida. A introspeção é o primeiro passo para a sabedoria.
Já fui muito pessimista, derrotista, descrente, afetado por opiniões e conversas de outros, hoje prefiro ter as minhas ideias, tirar as minhas conclusões e avaliar por mim, tento ser melhor todos os dias, não para ser mais do que ninguém, mas sim para ser melhor do que fui no dia anterior e olho para trás e SEI QUE ESTOU a CONSEGUIR.
Então, a importância de parar, nos dias que correm somos bombardeados com conversas, informações, opiniões, desinformações, sem sequer termos tempo de parar, prontamente estamos a conceder a nossa opinião também sobre este ou aquele assunto, sobre esta ou aquela notícia, sobre tudo e sobre todos sem sequer nos darmos ao trabalho de parar.
Byung-Chul Han, no seu ensaio “A Sociedade do Cansaço”, alerta para o excesso de positividade e produtividade que nos impede de parar. Vivemos num tempo em que o silêncio é confundido com fraqueza e a pausa com preguiça.
Mas é importante que o façamos pois só quando isso acontece, conseguimos fechar os olhos e sentimos o nosso interior a acalmar e é que começa a reflexão.
A importância de refletir, numa sociedade onde se vive para opinar, para criticar, desacreditar, desinformar, descredibilizar, a importância de refletir caiu em desuso, pois é mais importante, ter rápida uma resposta, uma opinião, do que parar e refletir.
Apenas com o poder da reflexão diária e contínua começamos a ver o mundo de outra forma, a priorizar as coisas de outra forma, a sentir uma mudança interior e aí que se dá a transformação. Se a sociedade hoje tivesse essa capacidade e não fosse tão apressada em tecer comentários, todos viveríamos melhor, com certeza todos seríamos mais felizes, de bem com a NOSSA vida e MAIS RESOLVIDOS, sentiríamos e compreenderíamos que o único momento que nos pertence é esse mesmo, o de parar e refletir, o AGORA, para que nos permitisse preparar MAIS e melhor o FUTURO.
Eckhart Tolle, no seu livro “O Poder do Agora”, defende que a verdadeira transformação só acontece quando nos ancoramos no presente. O agora é o único tempo real que temos.
Mas claro que não, isto é uma utopia, é a minha visão romântica de um mundo cheio de GUERRA, de ÓDIO, de afastamentos, de maldizer, e eu tenho NOJO deste tempo. A sociedade diz que evoluiu, eu sinto que regrediu. As pessoas hoje dizem-se e sentem-se mais preparadas e com mais conhecimento. Que conhecimento? O da televisão? Que escolhe a dedo os comentadores e jornalistas, as notícias e informações que pretende passar e com o tom certo para cada uma delas? A Internet, cheia de desinformação sem qualquer controlo, tudo parece real e daí já nem sabemos o que é ou não verdade. Os jornais? É isso, os jornais, onde se dizem informadores isentos, que de verdade pertencem a grandes grupos económicos cheios de vícios e interesses por trás de cada página.
Noam Chomsky tem sido uma das vozes mais críticas da manipulação mediática. No seu livro “Manufacturing Consent”, ele mostra como os meios de comunicação moldam a opinião pública ao serviço de interesses económicos e políticos.
E é nesta vida em que todos nos dizemos LIVRES, porque temos acesso a tudo. O problema é que temos de facto acesso a TUDO, mas será que todos sabemos o que fazer com TUDO?
PARAR E REFLETIR, na nossa sociedade, quem faz é criticado, quem é bom é descredibilizado e destratado, quem ajuda ainda é visto como interesseiro, quem ama e demonstra interesse e amizade logo é prontamente acusado por outros de querer algo e de estar a ser favorecido. Quem nada fez, ou faz, de facto tem valor, é acarinhado. Acreditamos em NADA em prol da atenção e um pouquinho de valorização, para que alimentemos o nosso EGO. Em que sociedade vivemos?
Zygmunt Bauman descreveu esta realidade como “modernidade líquida”, onde os valores, os vínculos e até as identidades se tornaram frágeis, descartáveis, efémeros.
Já PARARAM?
Já REFLETIRAM?
Parar e refletir é mais do que um gesto de pausa — é um ato de resistência contra a superficialidade, a desinformação e a alienação. Num mundo que se diz livre, mas que vive aprisionado por algoritmos, opiniões fabricadas e valores líquidos, a introspeção torna-se um caminho de libertação. Como nos ensinam pensadores como Sócrates, Nietzsche, Arendt e Bauman, a verdadeira evolução não está no acumular de informação, mas na capacidade de pensar por nós próprios, de questionar, de sentir e de transformar.
Este meu texto é um apelo à consciência, à autenticidade e à coragem de ser. É um convite a todos nós para que, antes de reagirmos, antes de opinarmos, antes de nos perdermos no ruído, tenhamos a ousadia de parar. E nesse silêncio, possamos finalmente refletir — sobre quem somos, sobre o que queremos, e sobre o mundo que estamos a construir.

