Hoje acordei com vontade de sair. Respirar o ar fresco da manhã, sentir o outono nos passos, deixar que o mundo me tocasse com sua brisa suave. Mas logo percebi: o tempo não espera. Ele passa por todos nós com uma elegância silenciosa, adaptando-se à pressa de uns e à lentidão de outros, mas jamais parando — por motivo algum.
Vivemos numa era em que tudo acontece em catadupa. As selfies, os stories, os vídeos curtos, os diretos, as opiniões, as notícias — tudo se sucede com uma velocidade que parece ultrapassar o próprio tempo. Mas será que ultrapassa mesmo?
Creio que não. O tempo continua soberano. Nós é que o negligenciamos. Tentamos ajudar, criticar, construir e destruir, tudo ao mesmo tempo, num frenesim de ocupações que nos impede de fazer o mais simples e necessário: parar e refletir.
Já dizia o poeta, no princípio era o verbo. E como canta Da Weasel:
“No princípio era o verbo, a palavra e depois a rima,
que provocou reações como se fosse uma enzima.”
Hoje, até para a casa de banho levamos os telemóveis. Vivemos a cultura dos 20 segundos — ou menos. Vemos “shorts”, “lemos” revistas (na verdade, cabeçalhos), consumimos notícias (na verdade, títulos). E por quê? Porque não podemos parar. Temos responsabilidades, filhos, contas, casas. Não temos tempo.
Entre um almoço apressado e o regresso ao trabalho, repetimos essa frase como um mantra moderno: não tenho tempo. E quando finalmente voltamos para casa, cansados, percebemos que ainda há muito por fazer. A comida, a roupa, a limpeza, os filhos. E, entre uma tarefa e outra, ainda opinamos sobre guerras, política, moralidade — tudo nas redes sociais, onde o valor de uma ideia se mede em likes.
Vivemos num mundo onde o barulho é constante e a pausa é rara. Mas talvez esteja na hora de desacelerar. De respirar fundo. De voltar a ter mais de 30 segundos de atenção plena. De parar e refletir.
Sêneca, o filósofo estoico, já nos alertava:
“Não é que tenhamos pouco tempo, mas que perdemos muito dele.”
Talvez você diga que não pode parar. Eu entendo. Mas acredite: quando finalmente puder, talvez seja tarde demais.

